Giro do Vale

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terça-feira, 16 de abril de 2024

Vítima fala da infância marcada pelos abusos do próprio pai

Foto: Juliano Beppler

Clareava o domingo, dia 13, quando a Polícia Civil realizou uma operação que culminou na prisão de um homem condenado pelo estupro da própria filha. Agentes da Delegacia de Polícia de Bom Retiro do Sul, com apoio de policiais de Cruzeiro do Sul e da Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento (DPPA) de Lajeado participaram da operação.

Após a sentença condenatória de 14 anos e 7 meses de reclusão expedida pela 1ª Vara de Estrela, os policiais foram cumprir o mandado de prisão. O condenado foi localizado em uma casa da sua família, na localidade de Beira do Rio.

Ele foi encaminhado para a DPPA de Lajeado, onde foi feito o registro, e na sequência foi levado para o Presídio Estadual de Lajeado.

Abusos dentro de casa

Após a prisão, a vítima procurou a reportagem e falou sobre o histórico de abusos sofridos dentro da própria casa, sobre as ameaças que sofria, a gravidez que acabou acontecendo, e sobre o seu sentimento no momento em que ficou sabendo que o homem que a violentou por anos, agora estava indo para trás das grades.

Quando tinha apenas 11 anos, a menina começou a ser abusada pelo companheiro de sua mãe, que havia lhe adotado e registrado como filha. Ela conta que em função de uma doença, sua mãe estava tomando remédios fortes que faziam ela dormir, e ali começaram os abusos.

“Eu era muito nova, ele começou a me dizer coisas, e eu não entendia muito sobre o que ele dizia. Começou a mandar eu fazer coisas, e dizia que se eu não fizesse iria matar eu, minha mãe e minha irmã que tinha 8 anos na época. Ele andava armado, eu tinha medo, então acabava fazendo o que ele mandava”, conta a jovem que hoje tem 23 anos.

Ela conta que o primeiro abuso físico ocorreu na cozinha da casa que fica na parte inferior da casa de dois pisos. “Ele tirou minha bermuda e calcinha, e me abusou. Doía muito, e ele me dizia que isso era só o início, que depois passaria, e reforçava que se eu contasse para alguém, pagaria com a vida”.

Abusos contínuos

A partir de então a jovem conviveu com abusos praticamente todos os dias. “Ele cometeu todos os tipos de abuso que se pode imaginar. Ele não pedia, ele mandava fazer”, lembra a vítima. Ela conta que após ser abusada sentia uma mistura de dor, raiva, medo, vergonha. “Eu me sentia um lixo, tomava vários banhos, e procurava não olhar pra ele e pra minha mãe, para não verem os machucados das vezes que eu tentava me defender e ele me batia”.

“Ele gostava de me abusar e bater, dava prazer pra ele”

Vítima

Os abusos aconteciam com mais frequência nos turnos da tarde e noite. Passado o tempo ele se aproveitava dos dias que sua esposa ia ao médico, e também quando levava a menina para trabalhar com ele na roça de milho próximo a barranca do rio.

A descoberta da gravidez

Os abusos começaram na mesma casa onde o homem acabou sendo capturado pela Polícia Civil e duraram cerca de 1 ano e 7 meses quando foi descoberto que a menina estava grávida. “A mãe dele chamou ele em separado e falou pra ele que eu estava grávida, e que ele estava ferrado. Quando fui buscar os bois no campo, ele veio atrás de mim e disse que se eu realmente estivesse grávida, teria que mentir que era deum rapaz da escola”

Depois disso, ele contou para a mãe da vítima sobre a gravidez, e pediu que ela perguntasse à filha, que por medo do homem acabou mentindo, e chorando ela implorou que não pedisse nada ao rapaz, com receio de que fosse descoberta a verdadeira paternidade, e de que ele pudesse fazer um mal maior.

Em seguida ela fez a ecografia que constatou que a gravidez já tinha quatro meses. Dois anos após o início dos abusos o bebê nasceu, quando a menina tinha 15 anos. O menino hoje tem 10 anos.

Condenado foi preso na manhã de domingo, dia 13, na localidade de Beira do Rio, interior de Bom retiro do Sul, na casa onde iniciaram os abusos. (Foto: Divulgação / Polícia Civil)

A revelação dos abusos

Ela sempre teve medo de revelar a violência sofrida. Mas após ficar grávida novamente, a menina perdeu o bebê, e contou para algumas amigas na escola, que repassaram a história à direção e o Conselho Tutelar foi acionado.

A menina foi levada até a Delegacia de Polícia onde prestou depoimento, e pode contar sobre todos os abusos sofridos. Após esse período o homem passou a ameaçar também pessoas que ajudavam a vítima. O motorista do ônibus escolar foi convidado para ser padrinho de seu filho. Hoje ele já é falecido, e na época foi acusado pelo abusador, de ser o pai do garoto. “Contei para ele sobre o que eu sofria, e ele me ajudou muito na época, e por isso acabou sofrendo com essas ameaças, assim como outras pessoas que nem sei te dizer hoje quem são”.

O pai abusador foi afastado de casa, porém mais tarde voltaram a morar juntos na localidade de Mariante, interior de Venâncio Aires. Ele continuava pressionando a menina para que ela dissesse ser mentira a versão dos abusos, até que o exame de DNA enfim confirmou que a menina estava certa, e então a paternidade foi confirmada.

Como vive hoje?

Aos 16 anos a vítima conseguiu sua emancipação. Na época ela foi trabalhar e morar em outra cidade. Há sete anos ela está casada e morando na zona rural de um município da região – que não iremos revelar por questão de segurança. “Meu marido sabe de toda história e me sempre me ajudou muito”, revela ela. Além do marido, moram juntos o seu filho e uma enteada que lhe tem como mãe.

Sua rotina é mais caseira, pois como seu marido trabalha, ela cuida mais dos afazeres da casa, e evita sair muito por vergonha de tudo que passou, e também medo de que possa sofrer represália de algum parente do homem preso.

Sentimento após a prisão

Ao saber da prisão de seu abusado, ela conta que sentiu vingada ao ver a justiça sendo feita. “Ainda que tenha demorado muito, me sinto melhor em ver ele pagando pelo mal que cometeu. Foi a melhor sensação do mundo, pois lutei dia por dia para que isso acontecesse. Durante cinco anos ele fez o que quis, e nesse dia não”.

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