Eduardo Cunha confirma ruptura com governo Dilma
- porJuliano Beppler da Silva
- 17 de julho de 2015
- 9 anos
Previsto para ser anunciado no final da manhã desta sexta-feira, o rompimento do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), com o governo, deverá, neste primeiro momento, se restringir apenas ao peemedebista. Embora tenha enorme influência sobre a bancada do PMDB da Câmara, Cunha afirmou ao jornal Estado de São Paulo que a decisão se limita a ele.
“Só posso falar por mim”, disse. Cunha afirmou que não tomará nenhuma “medida em especial” contra o governo, mas fez mistério sobre uma possível manifestação de que o rompimento significará ele passar a ser “oposição”. “Falarei isso na coletiva”, ressaltou.
As retaliações ao governo que devem ser colocadas em prática estão além da convocação de ministros mais próximos de Dilma. Logo após o final do recesso parlamentar, Cunha deve promover a instalação das Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs) para investigar o Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES) e os Fundos de Pensões. Para atormentar o sono do Palácio do Planalto, contrário à criação das comissões, articula-se a entrega das relatorias a integrantes da oposição.
Na véspera do anúncio de rompimento, Cunha procurou o vice-presidente da República, Michel Temer, e tiveram uma conversa na Base Aérea de Brasília momentos antes do vice deixar a capital federal. Segundo relatos, o presidente da Câmara se mostrava “indignado”. A retaliação do presidente da Câmara ao Palácio do Planalto ocorre um dia após ser divulgada parte da acusação feita pelo lobista Júlio Camargo de que ele teria cobrado US$ 5 milhões.
Cunha: delação é nula
Cunha reafirmou que há uma tentativa por parte do governo de fragilizá-lo. “Está muito claro para mim que estaoperação (Lava Jato) é uma orquestração do governo”, disse. Ele lembrou que, desde junho, o Executivo iniciou uma ‘devassa fiscal’ contra ele e incluiu seu nome na delegacia de maiores contribuintes do país. “Esse tipo de devassa, de cinco anos é um constrangimento para um chefe de Poder”.
O parlamentar disse que a delação de Camargo é “nula” por ter sido feita à Justiça de primeira instância e lembrou que, como parlamentar, tem foro privilegiado e só pode ser julgado pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Cunha disse que seus advogados vão pedir a transferência do processo de investigação para o STF.
“O juiz não poderia conduzir o processo daquela maneira. Vamos entrar com uma reclamação para que venha ([o processo) para o Supremo e não fique nas mãos de um juiz que acha que é dono do país”. Ontem, o presidente da Casa disse que está tranquilo e não teme acusações. Ele já havia negado seu envolvimento no esquema investigado pela Operação Lava Jato e acusou o Planalto de articular contra o Congresso Nacional, diante das mobilizações em torno de um processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff.
Segundo o deputado, Camargo foi “obrigado” a mentir sob orientação do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, e deve perder o direito à delação porque está dando uma versão diferente do que havia dado anteriormente. O peemedebista lembrou que, desde a divulgação da lista de Janot com nomes de políticos suspeitos de participar de irregularidades na Petrobras, tem “estranhado” o envolvimento de seu nome e voltou a afirmar que há uma clara motivação política encabeçada pelo governo para fragilizá-lo.
Em nota, a Procuradoria-Geral da República (PGR) esclareceu que o depoimento não tem relação com as investigações do STF e que “a PGR não tem qualquer ingerência sobre a pauta de audiências do Poder Judiciário, tampouco sobre o teor dos depoimentos prestados perante o juiz”.
Correio do Povo
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