Giro do Vale

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sábado, 4 de maio de 2024

Executados na Indonésia recusaram vendas e cantaram antes de morte

Montagem com fotos de oito dos condenados à morte por tráfico na Indonésia: acima, a partir da esquerda, os australianos Myuran Sukumaran e Andrew Chan, a filipina Mary Jane Veloso e o nigeriano Martin Anderson. Abaixo, os nigerianos Jamiu Owolabi Abashi - Foto: AFP / Divulgação

Montagem com fotos de oito dos condenados à morte por tráfico na Indonésia: acima, a partir da esquerda, os australianos Myuran Sukumaran e Andrew Chan, a filipina Mary Jane Veloso e o nigeriano Martin Anderson. Abaixo, os nigerianos Jamiu Owolabi Abashi – Foto: AFP / Divulgação

Os oito homens que foram fuzilados na Indonésia na madrugada desta quarta-feira (29) – tarde da última terça-feira, 28, no Brasil entoaram cantos religiosos enquanto andavam para encarar o esquadrão que os mataria, disse uma testemunha, que afirmou que eles morreram com “força e dignidade”.

Os condenados – dois australianos, quatro nigerianos, um indonésio e o brasileiro Rodrigo Gularte – saíram se suas celas na prisão na ilha de Nusakambangan e andaram até uma clareira feita na floresta, onde as execuções foram cumpridas.

Mas ao invés de baixar a cabeça em sinal de derrota e resignação, todos negaram-se a colocar uma venda nos olhos e entoaram cânticos religiosos, entre eles “Amazing Grace”, até que o pelotão começou a disparar.

Christie Buckingham, a pastora que acompanhou um dos australianos em seus últimos momentos, explicou ao marido que os condenados se comportaram “com força e dignidade até o fim”.

“Ela me disse que os oito andaram até o esquadrão de fuzilamento cantando canções de louvor”, disse Rob Buckingham à rádio australiana 3AW.

A pastora Karina de Veja disse que as vozes dos oito condenados eram ouvidas juntas. “Eles estavam todos louvando seu Deus. Foi tocante. Foi a primeira vez que testemunhei alguém tão bem por ir encontrar seu Deus”, afirmou. “Eles se uniram. Cantaram juntos, como em um coro. Os não-cristãos, acredito, também cantaram de seu coração”.

Na cidade portuária de Cilacap, de onde se chega à ilha de Nusakambangan, um pequeno grupo de pessoas havia se reunido com velas pouco antes da execução, cantando também “Amazing Grace” e cobrindo os prantos dos que pensavam no que estava prestes a acontecer na selva.

Foto: Nyimas Laula / Reuters / Divulgação

Foto: Nyimas Laula / Reuters / Divulgação

Segundo o jornal “Sydney Morning Herald”, o padre Charles Burrows, que deu conforto ao brasileiro Gularte, afirmou que foi especialmente difícil para ele, que foi diagnosticado com esquizofrenia e segundo sua família não sabia que iria ser executado.

De acordo com o padre, Gularte, falava com animais e tinha medo de ondas eletromagnéticas e satélites que poderiam vigiá-lo pelo céu. Em seu estado conturbado, ele acreditava que a Indonésia tinha abolido a pena capital e estabelecido um acordo de extradição de prisioneiros com o Brasil, o que significaria que ele poderia ir para casa no próximo ano.

“Não achávamos que a execução iria acontecer. Mas todos estavam olhando para frente, parece que todos aceitaram seu destino”, afirmou o padre.

Na cidade de Cilacap, último ponto onde as pessoas em geral podiam chegar, um pequeno grupo de pessoas fez uma vigília com velas, também entoando canções.

Foto: AP / Divulgação

Foto: AP / Divulgação

Pouco depois, na ilha, os oito condenados à morte foram atados a um poste e executados por um pelotão formado por 12 homens. Ao amanhecer seus corpos foram devolvidos a Cilacap dentro de caixões.

Os familiares seguiam chorando enquanto seus amigos e as pessoas que se dirigiram à cidade portuária para dar apoio ajudavam a iniciar a longa viagem de retorno para casa junto com seus entes queridos.

Angelita Muxfeldt, prima do brasileiro Rodrigo Gularte, chorava desolada enquanto um padre, Charlie Burrows, abria caminho entre a multidão.

Velório de Rodrigo

O corpo de Gularte foi levado para o Hospital Saint Carolus, na capital do país. Uma foto do brasileiro e uma cruz com seu nome e a data de seu nascimento e de sua morte estavam ao lado do caixão.

O corpo ainda será transportado para o Brasil, onde será enterrado, a pedido do próprio Gularte. Uma prima do paranaense, Lisiane Gularte, disse à imprensa que ele será velado novamente e sepultado em Curitiba.

Como ocorrem os fuzilamentos na Indonésia

Os prisioneiros são executados por um pelotão de fuzilamento, recrutado de uma unidade especial da polícia nacional.

Os atiradores são escolhidos com base em suas habilidades de tiro e “saúde física e espiritual”. Há aconselhamento antes e após as execuções.

Os condenados são levados para celas isoladas 72 horas antes da execução. Famílias e conselheiros religiosos são autorizados a visitá-los algumas horas antes da execução.

Os prisioneiros, que são vendados, têm a escolha de ficar em pé, ajoelhados ou sentados perante o pelotão de fuzilamento. Suas mãos e pés são amarrados.

Cada prisioneiro possui 12 atiradores mirando fuzis em seu coração. Somente três dos 12 possuem munição em suas armas. As autoridades afirmam que desta maneira quem executa não é identificado.

Uma equipe médica fica no local para confirmar a morte dos prisioneiros após as execuções.

Depois da confirmação, os corpos são limpos e entregues às famílias, que esperam do lado de fora do presídio durante a execução.

 

G1.

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